'...descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos
a pele assaltada de indecisão' (Adélia Prado)¹.
Fico
imaginando se a melhor solução seria apagar-me desse lugar e transporta-me pra
qualquer mundo mais sereno. Teria então – eu - a coragem de desmanchar-me em
líquido a fim de desembocar-me em algum canto onde, quem sabe, eu não
precisasse ouvir as ousadias impensadas de inúmeros humanoides?
Não
sei o que é pior: solidificar-me com a ideia de que um dia, quem sabe, a brisa
tocará as faces de mármore e cabeças de papelões – como já escrevera João do
Rio, ou andar ( sem maiores
preocupações) como uma dessas cabeças em olhadelas tão baixas nas quais se fazem tocar as bitucas do
chão.
Entender
que dor dói mais não é uma tarefa
fácil e, creio eu que, entre escolher saber
que dói a “fingir” que não sabe o que
faz doer, faz-me escolher o corroer por dentro.
Porque
já não consigo não pensar . Mas de
que adianta pensar? Deram-me indignação pra pouco fazer. fico mais em resmungos
longos do que qualquer outra coisa. Não sou corajosa e nem nada. A única coisa que faço quando algo me dói é pegar
uma folha em branco e contar em diferentes formas as mesmas dores.
Se ao menos eu conseguisse fazer arte...
¹ Do poema Segundos papéis
¹ Do poema Segundos papéis