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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Tomada em ênclise




'...descubro que estou chorando todo dia,
 os cabelos entristecidos
 a pele assaltada de indecisão'  (Adélia Prado)¹.




Fico imaginando se a melhor solução seria apagar-me desse lugar e transporta-me pra qualquer mundo mais sereno. Teria então – eu - a coragem de desmanchar-me em líquido a fim de desembocar-me em algum canto onde, quem sabe, eu não precisasse ouvir as ousadias impensadas de inúmeros humanoides?
Não sei o que é pior: solidificar-me com a ideia de que um dia, quem sabe, a brisa tocará as faces de mármore e cabeças de papelões – como já escrevera João do Rio, ou andar  ( sem maiores preocupações) como uma dessas cabeças em olhadelas tão baixas nas quais se fazem tocar as bitucas do chão.
Entender que dor dói mais não é uma tarefa fácil e, creio eu que, entre escolher saber que dói a “fingir” que não sabe o que faz doer, faz-me escolher o corroer por dentro.
Porque já não consigo não pensar . Mas de que adianta pensar? Deram-me indignação pra pouco fazer. fico mais em resmungos longos do que qualquer outra coisa.  Não sou corajosa e nem nada. A única coisa que faço quando algo me dói é pegar uma folha em branco e contar em diferentes formas as mesmas dores.
Se ao menos eu conseguisse fazer arte...




¹ Do poema Segundos papéis