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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bruno


As maçãs no rosto de Bruno nem indicam a peraltagem de que escreve Manoel
Nem transgressões, nem rispidez e muito menos desobediência com os avós.


O Bruno de brunagens que só os brunos fazem eu não vejo nele.


"Os fundos olhos de garrafa óculos o rosto roçam"


Diz que gosta de videogame e de filmes de ação
Brânis Brânis...
Ele só quer brincar. Só isso.

Bruno quer romper com a leveza das duas pedras largas que há em seus olhos
Arranha o arrastão de seus passos como se fosse um saci sem a única perna que lhe restava.
Eu nunca sei se é só carinho de que precisa 
Na primeira vez eu havia pensado que era desespero. Não sei!


Antes de ontem ele dizia que ia morrer
Ontem disse que ia se matar
Hoje não fui lá pra ver.
Será que tem saudade ou já morreu?


A verdade é que já viveu mais vida que aqueles que têm seus oitenta. Ah, seu contasse...

Quando olho pra Bruno me pergunto:
“O que fazemos nessa porra?”




na verdade já me perguntava antes
bem antes de conhecer Bruno.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O conta-gotas

O conta-gotas
Me pinga de dentro dos olhos
Que pingados refrescam o queixo.


Amanhã é três sílabas tristes.

Torquato Neto contorna os ouvidos:

Triste madrugada
Tudo e nada
A mão fria, a mão gelada
Toca bem de leve em mim

sábado, 9 de junho de 2012

Uma morte me cobre os olhos


Uma morte me cobre os olhos
Sugou-me as vísceras
Esmaecida. Diminuída de pele
Feia.
Quarto à dentro
Coluna torta
Carne a depilar.
Mulher que se esconde em um cubículo encardido.

Um espelho a minha frente para eu não me esquecer de mim

Ao invés de música, a voz de Waly Salomão que diz: “A vida é sonho”.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A minha Maria



Me antecipo no que poderia se tornar poético para tentar oferecer um punhado de palavras antes do teu retorno.

Busco no frio algo que transcenda a apatia que sinto ao modo como o vento bate em minha nuca.

Desse jeito penso: “era mais fácil digerir sentimentos quando você me era mais exotopia, mais longe, mais lacunas que se intervalavam. Agora que nos carregamos em um lado a lado mais estreito, a intimidade descasca a beleza do sentir”.

Não que eu sinta menos, é que quando pisamos várias vezes numa mesma linha, fica difícil pontuar quem pisou em cada espacinho.

Hoje pela manhã tive um sonho:

Sonhei que você já estava em casa
E no sobressalto voei para dentro do seu quarto
Me joguei na sua cama dizendo um
Oi princesinha e um parabéns bem cantado
Você estava cansada como eu já esperava
Mas como é enérgica ainda trocou algumas palavras
Perguntei o que eram aqueles pacotes embrulhados
E de quem ganhara
Você me disse que era de sua tia e de sua vó
Você abriu os pacotes
Em um, eram toalhas de louça
E em outro era um lençol rosa bebê.
Não sei se você ficou feliz,
Mas é bompracasa, eu disse.
Depois disso você dormiu
E eu saí dizendo: que saudade!


O que é prosaico pode dar cor.

O que é rotina (?)
O que é silêncio (?)
O que é hábito (?)


Hoje mesmo disse a Suzi: “como pode haver tanta beleza em uma dor?”

Fico feliz por estarmos numa sintonia afinca em que doemos juntas e saramos juntas e deliramos juntas.
Fico feliz por você, meu reino dos sorrisos.

A sapequecidade é algo que se cria com a intimidade (disso temos certeza).

Perdoa a minha miúdez. Escolha você a música...







Um rabisco bem embaixo: conversei com Suzi e disse que queria escrever sobre suas lindas qualidades, mas depois pensei: a Mi entenderia a minha secura. 

terça-feira, 5 de junho de 2012

Sempre entrelinhas






Um pouco curioso o modo como você ressurge. Aparece imbuído de timidez e com poucas palavras. 
É, confesso que a distância da virtualidade me assusta um pouco.
Constantemente lhe vejo à noite e é sempre quando mal posso ver a silhueta das pessoas e, soma-se a isso, quando mal posso sentir as minhas próprias mãos agarradas em alguma lata de cerveja.
E assim acontece:
Você - engarrafado do que é indecifrável, olhando desesperado pelos lados e assim transparecendo o medo de ser visto – e eu – tentando ouvir cada silêncio que você não diz -.

 às vezes chego a esfregar meus olhos para sentir meus pés no chão... Tento afastar os entorpecentes que agarram os meus sentidos para estar mais perto do que se diz por real.

"Ei, volte a si"
"Ei, volte a si, amanhã você vai querer se lembrar disso".

Desta maneira, tentamos calçar alguns meros assuntos que sabemos haver convergências e, seguindo suas inúmeras palavras já ditas, arvoro-me de possibilidades do que há por vir e que nunca é ‘vindo’. E é assim que espero alguma palavra, algum enunciado que me agrade aos ouvidos.
Só ganho o quase.  
.
.
.
Embora meus ombros já estejam relaxados, é como se num sacudir de chão eu voltasse a ver com olhos do que já nem é e, de tal modo, eu continuasse caçando os seus olhos só para brincar de haver encontro.


Talvez porque seja estranho não doer.

E ao mesmo tempo que há medo de voltar a ser Lídia, há medo de rasgar de vez o fiapo que sobra de um linguajar poético que pouco, muito pouco, nos cola os dedos.

[ a hipocrisia tem cheiro de passado]