MÃOS. MINHAS MÃOS! É certo que as tenho observado constantemente nos últimos dias. Tão pequenas e encolhidas em meu
mundo. Às vezes, discretas, tímidas, dentro dos bolsos, quando não na boca,
enfiada aos dedos entre os dentes. Vinte e cinco ano de mãos, quase vinteeseis. Já não são mais as mesmas que antigamente, mas têm me equilibrado aos montes em todo esse tempo.
Talvez agora trabalhe mais e embora eu não tenha mais o calo
no dedo anelar da mão esquerda, meus calos estão em outras partes do corpo.
Mãos com unhas fracas, esbranquiçadas,
sem força e sem cortes. Sensíveis ao sol, sem linha longa da vida. Las manos! Tenho as duas. Elas que percorrem meu corpo quando preciso de carinho e me molham de
prazer ao ser ausência. Mãos amadurecidas, de contato, de mãos apertadas. Sem
pressa. Massageiam corpos que não são os meus; abraçam outras mãos, translaçando
os dedos. Uma com a caneta na mão, a outra segurando um dos joelhos ou apalpando uma das pernas. Canhota ao escrever, ao apontar, ao girar a chave e puxar o gatilho. Confesso que a esquerda me domina.
As mãos já não me
traem, me atraem. Não me seguro nos prazeres. Vou inteira. Se não gosto: enfio-as embaixo
das axilas, nego com os dedos. Abro a porta, vou embora. Se gosto: fico, abraço, puxo. No nervosismo, à suo, a roo, a engulo. Com fome, cheiram a alho.
Sem reza. nem
para trás nem para frente. coçando o nariz ou os olhos. por vezes, limpando lágrimas. sem anéis, sem tinta, sem nada. Do apuro, recuo.