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quinta-feira, 1 de março de 2012

AMIÚDE



Como posso sentir o gozo da vida dentro desse existir?

É muito amendoim pra pouca boca e muita bagunça pra pouco corpo. Meus dias se repetem numa odiosa espera pelo nada. Transforma-se num instrumento de ‘esperacitude’, inquietude, solitude.  Um ude assimilado nas mais insensatas raízes de palavras. Sou o próprio sufixo.

“Um purgatório indecente dos que sentem sem dizer”, tenho repetido isso diversas vezes nesses últimos dias.

“Um purgatório indecente dos que sentem sem dizer

Um purgatório indecente dos que sentem sem dizer...Dos que calam.
Dos que calam, mas que não calam porque querem, calam porque não há som que os contemple.
E nada que vem de mim me satisfaz: nenhum assunto, nenhuma palavra, nenhum gênero... Aliás, nada vem de mim. Sou o nada vagando com clareza.
Embora isso, a preparação para o nascer do grito não cessa: as cordas vocais continuam a trabalhar. 
É um constante exercício! Faço gargarejo, refresco o corpo, saio pra passear. Mas como se isso fosse suficiente. 

"Jamé", como diria, abrasileiradamente, o bom brasileiro (claro).

(...) O único som que emana é o do próprio teclado aglutinado a um som mais distante que é do recolher da louça do jantar. Nenhum som mais. Desisti da música, ela não consegue mais inspirar. Pausei Egberto Gismonti, Godspeed You Black Emperor, Eddie Vedder, Arnaldo Batista, Sigur Rós. Nenhum desses ecos me fez ecoar.

Quem sabe quando eu não tiver sobre que dor escrever ou mesmo quando eu não desejar sentir esse incompreensível alívio que existe entre o intervalo do querer escrever e ter escrito.

Não é à toa que no senso comum dizem que quando a gente não procura é aí gente acha, não é? Ou é ao contrário? Já nem sei.

Bom, que se dane!

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