Meus dias parecem curtos demais para eu parar e me ter como livre, como infuncional.
Meus dias parecem curtos demais para eu parar e sentir o que tem sido - de fato - a minha vida.
Ando acontecendo em passos rápidos. Subo escadas pensando no próximo degrau. Dou poucas olhadelas pro lado. Passo correndo pelos meus amigos e digo: “estou atrasada, vamos marcar algo?”. E é um algo que nunca é marcado pela ausência de um tempo que antes, muito antes, me era dado. Quando paro, me deparo com o ócio cheio de culpa; ócio que quer ser, mas que nunca pode. E neste "tempo-livre" que nunca acontece, fico pensando no que poderia ler, no que poderia fazer, no futuro trabalho que ainda não aconteceu, mas que, por si, já acontece neste simples fato de pensar.
Pergunto-me: era isso
que se dizia ser coisa de adulto? Porque
me vejo pálida como qualquer pessoa com mais de vinte
anos que eu observada quando era miúda. Sinto-me com o olhar cansado de quem diz que a vida é isso. Vida como uma coisa empalidecida transmutada às vezes de um olhar louco nos fins de semana.
Mas nem esse fim de semana me serve. Há quanto tempo não saio? Há quanto tempo não como o ar com os olhos e não desfilo sentindo as minhas pálpebras vibrar?
Ontem abrimos um vinho e assistimos a um filme. Isso parece ser quase uma ideia de vida, não é?
Talvez mais tarde eu estoure pipocas...
Hoje, sair não dá....Os galos já cantam.
Queria ouvir uma música que não estivesse decorada em meu corpo, que fosse novidade aos meus sentidos.
(...)
Quando serei menos água?
Não quero parecer egoísta, mas por enquanto fico feliz por perceber que não estou sozinha. E por pensar que a vida deve ser mais, bem mais...
É que lutamos.