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segunda-feira, 21 de maio de 2012

E pra quando está marcado o tempo do encontro?




Meus dias parecem curtos demais para eu parar e me ter como livre, como infuncional.
Meus dias parecem curtos demais para eu parar e sentir o que tem sido - de fato - a minha vida. 
Ando acontecendo em passos rápidos. Subo escadas pensando no próximo degrau. Dou poucas olhadelas pro lado. Passo correndo pelos meus amigos e digo: “estou atrasada, vamos marcar algo?”. E é um algo que nunca é marcado pela ausência de um tempo que antes, muito antes, me era dado. Quando paro, me deparo com o ócio cheio de culpa; ócio que quer ser, mas que nunca pode. E neste "tempo-livre" que nunca acontece, fico pensando no que poderia ler, no que poderia fazer, no futuro trabalho que ainda não aconteceu, mas que, por si, já acontece neste simples fato de pensar.
Pergunto-me: era isso que se dizia ser coisa de adulto? Porque me vejo pálida como  qualquer pessoa com mais de vinte anos que eu observada quando era miúda. Sinto-me com o olhar cansado de quem diz que a vida é isso. Vida como uma coisa empalidecida transmutada às vezes de um olhar louco nos fins de semana.


Mas nem esse fim de semana me serve. Há quanto tempo não saio? Há quanto tempo não como o ar com os olhos e não desfilo sentindo as minhas pálpebras vibrar?


Ontem abrimos um vinho e assistimos a um filme. Isso parece ser quase uma ideia de vida, não é?
Talvez mais tarde eu estoure pipocas...


Hoje, sair não dá....Os galos já cantam.


Queria ouvir uma música que não estivesse decorada em meu corpo, que fosse novidade aos meus sentidos.


(...)


Quando serei menos água






Não quero parecer egoísta, mas por enquanto fico feliz por perceber que não estou sozinha. E por pensar que a vida deve ser mais, bem mais...


É que lutamos.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

MÁ-sturbação é de deus




Querido diário:
Recorro a você porque esse é mais um dos escritos proibidos.

Ontem me ocorreu ligar a TV e, pode parecer estranho, mas fiquei diante dela um bom tempo, bem mais do que eu deveria ficar. Era já o silêncio da madrugada.
Permaneci lá, sentada, mudando de canal abruptamente sem que nada ousasse a manter minha atenção por pelo menos 30 segundos. Um troca-troca sem fim.
Nesse correr os olhos, meu dedo descolou do controle por um instante a mais e fiquei com receio. Fiquei com receio porque o que vi não me era habitual, nunca havia visto – senti-me com medo de estar olhando -, eu não poderia assistir. Era pecado.
Você já deve até saber o que eu vi, por isso eu não sei se eu preciso falar, parece-me que a verbalização causa-me ainda mais arrependimento. Sinto-me a pecadora em série. Uma vadia, uma mulher da vida como dizem nos domingos quando vou à igreja.

Sinto-me assim porque não desliguei o aparelho e, deste modo, - mais uma vez - eu fingi não-saber o que se passava para ter em minha mente a desculpa de assistir ainda mais, vidrar-me os olhos. 
Fingi desconhecer o que vi da mesma forma como quando eu tentei me enganar ao cometer o meu primeiro pecado. É que Deus não precisa saber que eu sei que é pecado. Como poderia me condenar por algo que nunca disse? Assim, coloco-me como desentendida para comê-los inocentemente inúmeras vezes.
Mas falando miudinho: eu não consigo entender porque não falam acerca desta coisa que eu faço às vezes. Eu nunca, se quer, jamais, ouvi falar sobre. Não sei nem como é o nome, mas - mesmo assim- sinto que não posso falar porque nunca li e nunca nem me compartilharam algo do tipo. Será que eu não vou pro céu? É estranho, porque é uma sensação que nunca tive antes. 

Enformiga-me dos pés à altura do umbigo, acaba logo e sinto que peco.

Então, rezo algumas orações fazendo-me pensar que devo estar com alguma doença e que vai passar logo.
Mas nunca passa...

Às vezes escorrego minhas mãos lá embaixo e finjo que elas caíram sozinhas. 


Fico feliz ao conversar com você por não haver julgamentos. Ao escrever, rezo baixinho pra Deus não ouvir e para afirmar ainda mais a minha ingenuidade. Talvez ele acredite.

Obs: a natureza é mesmo linda, não é?

Obs2: será que há algo de errado comigo?

Obs3: espero que nunca ninguém encontre esses escritos proibidos.

Obs4: espero que deus não saiba ler.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O que causa salivação.


Hola chicas, ¿qué tal un baile?



Impregnada de passados,
eu danço com as palavras.
Me conspurco nelas e com elas.
Não titubeio: arrasto o pé.
Sem servidão nos embalamos.
É bem mais um tango que qualquer outra dança.
Uma troca.
Me embalo e as embalo.
Um pra lá, outro pra cá... 
Olha o 


   G
A
    N
C
    H
O


Depois saio de fininho
como quem cansa de show,
como quem cansa de baile e de manter-se em pé.
E desse modo eu deixo as palavras lá:
Dançadas
Embaladas
Afinadas como 'pé de valsa'
Como se assim sempre tiveram sido
Dançadas pela própria natureza: a veia própria das palavras. Inatas!


E lá ficam elas
Esperando quem as acompanhe na mesma dança que se dará, sem dúvida alguma, com ritmos diferentes
Suspiros indecentes
Cores transmutadas


Eis a traição do olhar numa dança bailada sem saber que um dia já fora bailada.


A partida recomeça pensando que é começo.


O tesão desse universo.


A assimilação dos sentidos
O encontro.


Simulacro




As mesmas músicas me choram tentando comover com suas notas de esvaziar vazios. Duas ou três lágrimas se desfazem dos meus olhos, mas ainda sinto o sufoco contraído com o nó que vai do peito à garganta.
Eu não tenho motivos pra chorar, eu pensei.
Mas quem disse que para chorar precisa de motivos? E como se não me contentasse com a própria resposta indagativa, penso na maior dor dos últimos tempos para não parecer vulgar ou piegas demais com lágrimas à toa.
Penso nas dores passadas: coloco-me de frente à inquisição; ao holocausto; a primeira e segunda guerras; vou pro Oriente Médio; me revolto junto aos trabalhadores com as reivindicações operárias em Chicago; me volto aos sem-terra, caminho pelo sertão, entro no meu quarto...
E como qualquer truque barato
E como qualquer receita de bolo
...Mísera bula de um mísero remédio
Meu rosto é de água. E sinto-me estúpida como quem chorou demais.
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...E então tudo para de repente!




Acabou a música. Acabou o som. Acabou a etapa.

Agora sem nó e sem dó, sinto-me seca.
Sem água, sem sal e sensibilidade. 


Tinta fresca no armário.