Querido diário:
Recorro a você porque
esse é mais um dos escritos proibidos.
Ontem me ocorreu ligar
a TV e, pode parecer estranho, mas
fiquei diante dela um bom tempo, bem mais do que eu deveria ficar. Era já o
silêncio da madrugada.
Permaneci lá, sentada,
mudando de canal abruptamente sem que nada ousasse a manter minha atenção por
pelo menos 30 segundos. Um troca-troca
sem fim.
Nesse correr os olhos,
meu dedo descolou do controle por um instante a mais e fiquei com receio. Fiquei
com receio porque o que vi não me era habitual, nunca havia visto – senti-me
com medo de estar olhando -, eu não poderia assistir. Era pecado.
Você já deve até saber
o que eu vi, por isso eu não sei se eu preciso falar, parece-me que a
verbalização causa-me ainda mais arrependimento. Sinto-me a pecadora em série. Uma
vadia, uma mulher da vida como dizem nos domingos quando vou à igreja.
Sinto-me assim porque não desliguei o aparelho e, deste modo, - mais uma vez - eu fingi não-saber o que se passava para ter em minha mente a desculpa de assistir ainda mais, vidrar-me os olhos.
Fingi desconhecer o que vi da mesma forma como quando eu tentei me enganar ao cometer o meu primeiro pecado. É que Deus não precisa saber que eu sei que é pecado. Como poderia me condenar por algo que nunca disse? Assim, coloco-me como desentendida para comê-los inocentemente inúmeras vezes.
Fingi desconhecer o que vi da mesma forma como quando eu tentei me enganar ao cometer o meu primeiro pecado. É que Deus não precisa saber que eu sei que é pecado. Como poderia me condenar por algo que nunca disse? Assim, coloco-me como desentendida para comê-los inocentemente inúmeras vezes.
Mas falando miudinho: eu não consigo entender porque não falam acerca desta coisa que eu faço às vezes. Eu nunca, se quer, jamais, ouvi falar sobre. Não sei nem como é o
nome, mas - mesmo assim- sinto que não posso falar porque nunca li e nunca nem me compartilharam algo do tipo. Será que eu não vou pro céu? É estranho, porque é uma sensação que nunca tive antes.
Enformiga-me dos pés à altura do umbigo, acaba logo e sinto que peco.
Então, rezo algumas orações fazendo-me pensar que devo estar com alguma doença e que vai passar logo.
Mas nunca passa...
Às vezes escorrego
minhas mãos lá embaixo e finjo que elas caíram sozinhas.
Fico feliz ao conversar
com você por não haver julgamentos. Ao escrever, rezo baixinho pra Deus não
ouvir e para afirmar ainda mais a minha ingenuidade. Talvez ele acredite.
Obs: a natureza é mesmo
linda, não é?
Obs2: será que há algo de errado comigo?
Obs3: espero que nunca ninguém encontre esses escritos proibidos.
Obs4: espero que deus não saiba ler.
2 comentários:
O que faz tantos homens te quererem? Qual o teu segredo? Um sorriso lascivo, um rebolado, teu olhar, andar. Cansei de ver homens, digo homens daqueles que desejaria ao meu lado em uma frente de batalha, caírem aos teus pés, se subjugarem, abrirem um sorriso sem graça ao te ver longe, escrachando a larga ferida que cravasse no seus orgulhos.
Homens feitos, barbados, formados, que me serviram de razão em vários momentos, perdendo o fôlego, tropeçando nas sílabas do teu nome, caindo feito marionetes com fios cortados.
“Nada de mais”. Talvez teu segredo seja um “nada de mais”.
Por favor desconsidere o anonimato, nem percas sequer um minuto lendo este encadeamento de erros gramaticais, ou tenhas medo: "meu deus, um bizarro me mandou uma mensagem bizarra". É que este teu mistério me intriga, só isso, nada de mais.
é esse teu olhar lascivo...
"nesses olhos que contém uma espécie de poder magnético que a tudo subjuga, a mitologia humana identificou uma das localizações da alma" (Morin)
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