A vida me despi sem eu ver.
Ela tira toda repressão em gesto que eu faço e não percebo.
Embriagada por alguma língua morna, arranca-me discretamente a blusa que escondia mentiras verdadeiras.
Não me espera, invade.
Metade de pele se mostrando e o suor doce de meia dúzia de amigos faz eu jogar, em qualquer canto de chão sujo, a calça que me privava do frio.
E assim eu nem vejo.
E semi nua eu danço nos enfeites da vida.
Risonha eu fico.
As pessoas gozam do meu riso e escondem os próprios prazeres infames. Mas, elas não sabem quão boa é a nudez.
Igual como quando estamos sozinhos, desfilo sem roupas por corredores silenciosos.
Espera, espera, espera...
Descontente eu me arrasto entre os rodapés cinzelados.
E eu compreendo.
E sei.
E calo.
É assim que vida me cobre com qualquer teto que consiga censurar uma passageira sensação de liberdade.
E desse jeito eu percebo a vida me des(pin)cobrin(do).
Silêncio.