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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dias de chuva


Arthur não sabia realmente o que tinha feito de seu destino, só percebeu naquele instante, quando na lembrança vieram as coisas mais simples e instigantes da vida, inclusive da cidade natal, Joliente.
Deitado na cama, sobre os braços, o sol no final de tarde, brilhava. Os raios eram filtrados pelas cortinas, iluminando os olhos melancólicos e preguiçosos, dele. Morava agora em Micelas, a floresta de concreto, abafada e suja. Perlustrando, o quarto era decorado no estilo vitoriano, cheio de antiguidades, dava classe ao local. Era isto que ele havia conquistado: luxúria, ambição e ganância. Porém, não sabia se aquilo tudo valia a pena. Tinha saudades de detalhes simples, reinados na própria memória só ali, na hora mais difícil.
A casa, a padaria, estradas de chão e até os jardins floridos com bromélias, todas estas coisas faziam entristecer o peculiar pensamento. Sem falar na querida mãe, o nome dela? Sara. Não a via desde o último natal, quando a presenteou com um belo par de sapatos envernizados. Nostalgia descrita até nos momentos perdidos. Quem diria, Liana, prima de Arthur, linda menina, casou-se com o moço mais desleixado da cidade, Cadeto. Cidade de Joliente, ao lado da padaria, estradas feias e, as bromélias. Era Sara, no chão, em frente a velha casa, hoje com uma nova cor, estava ela aí, tapada de cima a baixo com um fino lençol. Nos pés, os sapatos aqueles. A velha cidade havia se tranformado num caos, a violência tinha tomado conta e em meio a um tiroteio, fora embora sua mãe. Morta ela está.
A mãe mais amada, na hora indesejável, da lembrança à tristeza. Ela partiu. A última ida a Joliente. Arthur cobre o caixão de uma mulher tão importante, ao som dos pássaros, o aroma da insatisfação e a cor livre das bromélias agora, secas.

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